Nos tratamentos de reprodução assistida, a fertilização in vitro (FIV) com injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) é considerada um dos avanços mais importantes e tornou-se a principal indicação para casais com infertilidade por fator masculino. Na técnica, um espermatozoide é selecionado, aspirado em uma agulha de microinjeção e injetado no citoplasma do óvulo, aumentando as chances de fecundação.
O resultado da ICSI, entretanto, depende de vários fatores, incluindo a qualidade dos óvulos e espermatozoides selecionados para serem injetados. Existem casos em que deficiências nos gametas masculinos impedem a penetração no óvulo e, consequentemente, a fertilização não ocorre, mesmo quando são previamente selecionados.
Além das técnicas de capacitação e para recuperação de espermatozoides utilizados durante o tratamento, a FIV com ICSI possibilita ainda a avaliação microscópica dos gametas, analisando critérios como morfologia e motilidade.
Embora a ICSI tenha melhorado significativamente os resultados de fertilização nos casos em que a infertilidade é causada por fatores masculinos, em alguns casos são necessários outros exames.
Com o propósito de melhorar a seleção de espermatozoides, um novo método de observação da morfologia espermática surgiu em 2009, o MSOME (Motile Sperm Organelle Morphology Examination) ou exame de morfologia de espermatozoides móveis. Incorporado à FIV com ICSI, originou o tratamento IMSI (Intracytoplasmic Morphologically Selected sperm Injection), também chamado super-ICSI.
A super-ICSI permite que cada espermatozoide recuperado tenha morfologia adequada e com pouca fragmentação do DNA espermático, possibilitando a formação de embriões mais saudáveis.
Assim como na FIV com ICSI, o tratamento inicia com a seleção dos gametas a partir da preparação seminal, técnica complementar à FIV, com a utilização de diferentes métodos.
Quando eles não estão presentes no sêmen, é possível coletá-los do epidídimo, duto que armazena, amadurece e transporta os espermatozoides até que sejam ejaculados, ou dos testículos por punção ou procedimento cirúrgico.
Antes do processo de fecundação, assim como na FIV com ICSI, os gametas também são avaliados por um microscópio. No entanto, na super-ICSI a seleção é ainda mais precisa. O procedimento utiliza sistemas óticos com alto poder de resolução das imagens, possibilitando a ampliação eletrônica em mais de 6.000 vezes.
A alta magnificação permite uma avaliação morfológica em tempo real, com o espermatozoide em movimento, possibilitando a seleção de gametas com um núcleo morfologicamente normal, além de conteúdo nuclear e função mitocondrial.
A técnica revelou, inclusive, um novo critério em espermatozoides humanos: a presença de vacúolos nucleares no interior dos gametas – pequenos espaços entre o citoplasma das células sexuais masculinas que comprometem a integridade do DNA, ou seja, o conteúdo cromossômico dos gametas, provocando condições como a falha repetida de implantação.
Na FIV com ICSI, por exemplo, o defeito pode ser visualizado apenas nos casos em que os vacúolos são bastante grandes, enquanto na super-ICSI são mais facilmente identificados.
Constataram-se níveis aumentados de DNA fragmentado em espermatozoides com grandes vacúolos e anormalidades de condensação da cromatina, substância constituinte do cromossomo.
Embora a origem desses vacúolos levante muitas questões, algumas correlações fortes foram estabelecidas entre a morfologia do espermatozoide, em particular a presença de vacúolos grandes, e sua qualidade nuclear (grau de condensação da cromatina e/ou integridade do DNA, conteúdo cromossômico).
Vacúolos presentes na cabeça dos espermatozoides, por exemplo, estão associados a menores taxas de sucesso na FIV, menor taxa de formação de blastocisto e maior incidência de abortamento espontâneo.
A alta resolução das imagens proporcionada pela super-ICSI possibilita a seleção de espermatozoides mais saudáveis e aumenta a probabilidade para o sucesso do tratamento e as taxas de gravidez clínica.
O tratamento por FIV com super-ICSI é indicado principalmente para os seguintes casos:
Cada espermatozoide é então selecionado e injetado em um óvulo para que ocorra a fecundação. A super-ICSI aumenta a possibilidade de embriões saudáveis formados, que podem ser transferidos a fresco ou congelados para uso futuro.