Como o termo sugere, estimulação ovariana é um procedimento que tem como objetivo estimular o desenvolvimento e amadurecimento de vários folículos, aumentando, consequentemente, a quantidade de óvulos disponíveis para fecundação.
É uma etapa fundamental em todas as técnicas de reprodução assistida e possibilita a solução de problemas de infertilidade feminina, como a disfunção da ovulação, provocada por diferentes condições que comprometem a produção (quantidade) e qualidade dos gametas femininos, dificultando a concepção.
O hormônio folículo-estimulante (FSH) e o luteinizante (LH), chamados gonadotrofinas hipofisárias, são produzidos pela hipófise e regulam a atividade dos ovários e testículos.
No início de um ciclo natural, na fase folicular, o hormônio FSH é liberado pela hipófise, estimulando o crescimento de diversos folículos e a secreção de estradiol, hormônio responsável pelo desenvolvimento e maturação deles. Porém, apenas um se desenvolve e se rompe para liberar o óvulo.
Quando eles atingem o tamanho ideal, os níveis de estradiol se elevam e estimulam a liberação do LH. Ele funciona como um gatilho, provocando a ovulação, que geralmente ocorre no 14º dia de um ciclo de 28 dias.
Nos tratamentos de reprodução assistida, os ciclos são estimulados por hormônios semelhantes aos produzidos pelo organismo. Eles induzem desde o desenvolvimento e maturação de uma quantidade maior de folículos – e não de apenas um, como ocorre no processo natural – à ovulação.
É comumente pensado que uma estimulação ovariana, com a consequente produção de vários folículos, acarreta uma diminuição da reserva do ovário, o que não corresponde à realidade. O contrário é verdadeiro. Em um ciclo ovulatório espontâneo, vários folículos são recrutados, mas somente um se desenvolve e ovula. Por outro lado, em uma estimulação ovariana, dos folículos recrutados, um número maior é selecionado e pode formar óvulos, acarretando em um maior aproveitamento da reserva ovariana.
O FSH sintético estimula maior produção do hormônio pelo organismo, enquanto para a indução da ovulação, o pico de LH é alcançado pela administração de agonistas do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que também estimulam a produção de LH, ou da gonadotrofina coriônica humana (hCG), que se une a receptores de LH com função semelhante à dele.
A ovulação ocorre em cerca de 36 horas e a coleta dos óvulos é feita por punção.
Antes da estimulação ovariana, o primeiro passo é a realização de diferentes exames – físico, laboratoriais e de imagem – para avaliar a saúde do aparelho reprodutor feminino e a capacidade da reserva ovariana. O diagnóstico é que irá determinar o tratamento e protocolo mais adequados, personalizados de acordo com cada caso.
Nas técnicas de baixa complexidade, como a relação sexual programada (RSP) ou coito programado e a inseminação intrauterina (IIU), também chamada de inseminação artificial, os protocolos estabelecem a administração de uma dosagem menor de hormônios, com o propósito de obter até três óvulos, uma vez que a fecundação ocorre de forma natural, no útero.
Na RSP, as tubas uterinas e espermatozoides devem estar saudáveis, pois, na técnica, a principal proposta é a programação do período mais propício para a fecundação. Geralmente é indicada para mulheres com ciclos menstruais irregulares, que, consequentemente, provocam alterações na ovulação.
Já a inseminação intrauterina também possibilita o tratamento quando há alterações leves ou moderadas nos espermatozoides. O procedimento permite a seleção dos gametas mais saudáveis, que serão posteriormente transferidos para o útero. Além de problemas na ovulação, mulheres com endometriose mínima ou leve e infertilidade sem causa aparente (ISCA) podem fazer o tratamento com a técnica.
De alta complexidade, a FIV (fertilização in vitro), por outro lado, é a principal indicação para mulheres com anovulação (ausência de ovulação), obstrução tubária, acima de 35 anos, quando não há resposta aos outros tratamentos e se a infertilidade for causada por fatores masculinos.
A FIV utiliza protocolos para estimulação ovariana que preveem a administração de uma dosagem maior de medicamentos para estimular a maturação dos óvulos, aumentando ainda mais as chances de gravidez.
A ovulação pode ser induzida pelo modo tradicional ou com a utilização do duplo trigger (gatilho duplo), quando são administrados simultaneamente os dois medicamentos: o agonista de GnRH e a gonadotrofina coriônica humana (hCG).
O gatilho duplo permite a obtenção de um número ainda maior de óvulos maduros e é particularmente indicado para mulheres com a reserva ovariana muito baixa, provocada pelo avanço da idade e por condições como a falência ovariana precoce (FOP) ou quando a resposta em ciclos anteriores da FIV não foi boa.
Os percentuais de sucesso atribuídos à estimulação ovariana são bastante expressivos. O procedimento permite coleta significativa de óvulos, inclusive em mulheres com anovulação (ausência total de ovulação), condição que pode ser provocada pela síndrome dos ovários policísticos (SOP), obesidade, problemas na glândula tireoide ou pela prática de exercícios físicos de alta intensidade.
Os riscos relacionados ao procedimento são considerados baixos quando comparados aos benefícios que ele proporciona. O principal é a síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO), uma condição rara em que a produção de uma quantidade maior de hormônios pelos ovários pode causar alterações metabólicas ou problemas mais graves, facilmente evitada quando há controle adequado durante o tratamento.
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