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É possível escolher o sexo da criança na FIV?

É possível escolher o sexo da criança na FIV?

Por Dra. Rosane Rodrigues 25/02/2021

Desde o surgimento da FIV (fertilização in vitro), na década de 1970, a possibilidade de ter filhos por meio de reprodução assistida se tornou tema de filmes, livros e ganhou status de revolução da vida.

Na técnica, que chegou com ares de ficção científica, óvulos e espermatozoides são fecundados em laboratório e os embriões posteriormente transferidos para o útero.

A FIV está entre os principais avanços da medicina e, atualmente, além de proporcionar o tratamento de infertilidade feminina e masculina, apresenta diferentes soluções, como evitar a transmissão de doenças genéticas para as futuras gerações.

Mesmo sendo reconhecida por sua qualidade revolucionária, ainda provoca polêmicas e dúvidas. Uma das mais comuns é sobre a possibilidade de escolher o sexo do bebê.

Para entender melhor sobre o funcionamento da FIV e esclarecer dúvidas sobre a escolha do sexo, continue a leitura.

Entenda como a FIV é realizada

Considerada a principal técnica de reprodução assistida, a FIV também é a mais complexa. O tratamento é realizado em cinco diferentes etapas e todas elas são fundamentais para o sucesso da gravidez.

Na primeira ocorre a estimulação ovariana e indução da ovulação: medicamentos hormonais estimulam o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos (bolsas em que os óvulos são armazenados), que posteriormente são coletados por punção na segunda etapa, ao mesmo tempo que os espermatozoides são capacitados por técnicas de preparo seminal para que os melhores sejam selecionados.

Na terceira etapa, a fecundação é realizada. Atualmente, na maioria das clínicas de reprodução assistida, a FIV com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) é o método mais utilizado.

Incorporada à FIV em 1992, a ICSI proporcionou o tratamento de infertilidade masculina provocada por fatores mais graves. Prevê a injeção do espermatozoide no citoplasma do óvulo, o que aumenta as chances de a fecundação ocorrer.

Na quarta etapa, é realizado o cultivo embrionário. Os embriões permanecem em incubadoras por alguns dias, quando são transferidos na última etapa para o útero materno.

É possível escolher o sexo da criança na FIV?

Tecnicamente é possível, sim, escolher o sexo da criança na FIV com a utilização do teste genético pré-implantacional (PGT), uma das técnicas complementares à FIV.

O PGT é uma ferramenta molecular que utiliza a tecnologia NGS, next generation sequencing ou sequenciamento de nova geração, para realizar a análise. A técnica analisa o sequenciamento de milhões de pequenos fragmentos de DNA. Dessa forma, ao mesmo tempo que possibilita a detecção de distúrbios genéticos, também proporciona a identificação do sexo daquele embrião.

O teste é realizado quando o embrião está na fase de blastocisto, entre o quinto e sexto dias de desenvolvimento, quando as células já estão formadas e divididas por função.

Durante a fecundação é o espermatozoide que define o sexo da criança, pois enquanto os óvulos possuem apenas o cromossomo X, eles podem ter o X ou Y. Assim, se ocorrer o cruzamento XX, o sexo é feminino e XY, masculino.

Os cromossomos são uma estrutura composta de DNA, que contém toda a informação genética da pessoa, como cor dos olhos ou doenças que podem ser transmitidas pelos pais para seus descendentes.

Ainda que o PGT seja extensivo a qualquer pessoa com suspeita, confirmação ou histórico de distúrbios genéticos, independentemente de terem ou não problemas de fertilidade, no Brasil a seleção de sexo pela FIV não é permitida pelas regras do Conselho Federal de Medicina, órgão que regulamenta a reprodução assistida no país.

Quais são as regras para escolha do sexo no Brasil?

As regras nacionais permitem a utilização da FIV com esse objetivo apenas quando existe o risco de algum distúrbio genético relacionado ao sexo. O CFM, assim como órgão de outros países, acredita que a seleção de sexo pela FIV não está isenta de questões éticas ou morais, considerando ainda o fato de que o uso não médico para a seleção de sexo compromete a ética do tratamento.

Além disso, algumas instituições também veem a seleção não médica como discriminadora entre um e outro, da mesma forma que são apontadas questões sociais, como o prejuízo ao equilíbrio natural de homens e mulheres na sociedade.

Por outro lado, o objetivo permite a detecção de diversas doenças, evitando, assim, a transmissão para os filhos.

Entre as que podem ser evitadas a partir da seleção do sexo está a síndrome do X frágil, um distúrbio caracterizado por alterações em parte do cromossomo X, que causa diversos problemas de desenvolvimento, como o comprometimento cognitivo e dificuldades de aprendizagem. É a forma mais comum de deficiência intelectual hereditária em meninos.

Outro exemplo é a hemofilia, problema em que o sangue não coagula normalmente, levando ao sangramento excessivo (hemorragia), interna ou externamente, após a ocorrência de lesões ou danos.

A mutação que causa hemofilia também fica localizada no cromossomo X e, embora as mulheres não desenvolvam a doença, podem ser portadoras, portanto, quando o filho é do sexo masculino, ele pode manifestá-la.

Após a realização do PGT, apenas os embriões saudáveis são transferidos, minimizando, assim, as chances de a transmissão ocorrer.

Entenda mais sobre a FIV. Leia o nosso texto específico sobre o tema.

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