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Doação de embriões: o que é e qual a importância da técnica?

Doação de embriões: o que é e qual a importância da técnica?

Por Dra. Rosane Rodrigues 01/02/2022

Para que a gravidez ocorra em um processo natural, todos os meses os ovários liberam um óvulo (ovulação), que poderá ser fecundado pelo espermatozoide. Embora milhares de espermatozoides sejam ejaculados, apenas um deles vence a corrida para gerar a futura criança.

Após ser fecundado, o óvulo altera sua composição e se torna uma única célula, o zigoto, que se divide, formando o embrião.

A doação de embriões é um procedimento importante quando o casal tem graves distúrbios de infertilidade e não consegue engravidar com óvulos e espermatozoides próprios, de forma natural ou pelos tratamentos de reprodução assistida.

As técnicas de reprodução assistida são classificadas em alta e baixa complexidade. Nas de baixa complexidade, relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA), a fecundação ocorre naturalmente, nas tubas uterinas.

Já na fertilização in vitro (FIV), a fecundação é realizada em laboratório. Assim, a doação de embriões só é possível na técnica. Saiba tudo neste texto!

O que é a doação de embriões e como ela é possível na FIV?

A doação de gametas (óvulos e espermatozoides) e embriões é uma técnica complementar à FIV. Da mesma forma que é importante para aumentar as chances de gravidez após diversas falhas no tratamento, tornou-se alternativa para que pessoas solteiras e casais homoafetivos possam ter filhos ou quando há chances de transmitir doenças genéticas para a próxima geração.

Na FIV, óvulos e espermatozoides são fecundados em laboratório e os embriões que resultam desse processo, transferidos para o útero. As técnicas laboratoriais e meios de cultura possibilitam, atualmente, o cultivo do embrião por até seis dias. Nesta fase, conhecida como blastocisto ou D5, eles já possuem as células formadas e divididas por função.

No blastocisto, também há maior sincronização fisiológica, uma vez que é durante essa etapa que a implantação (nidação) acontece na gestação natural.

Os embriões que não são transferidos em um ciclo de tratamento por FIV podem ser congelados para serem utilizados em um próximo ou no futuro. Eles podem permanecer congelados por até 3 anos segundo as regras do Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão responsável por orientar a medicina reprodutiva no Brasil. Depois disso, se não forem utilizados, são descartados.

No entanto, a doação pode ocorrer a qualquer momento. Em muitos casos, por exemplo, após o sucesso da gravidez, os casais não querem ter mais filhos e os embriões são disponibilizados para doação, que deve ser anônima e sem caráter lucrativo, como determina o CFM. As pessoas que os receberão, entretanto, deverão assumir os custos da transferência.

Durante o blastocisto é possível analisar as células embrionárias para detectar doenças genéticas e anormalidades cromossômicas. O rastreio é realizado pelo teste genético pré-implantacional (PGT), outra técnica complementar ao tratamento.

O PGT é uma ferramenta molecular, que utiliza a tecnologia NGS, next generation sequencing, ou sequenciamento de nova geração, para analisar milhares de pequenos fragmentos de DNA, ou seja, o genoma de cada embrião.

Apenas após ter a saúde confirmada, o embrião doado é transferido para o útero da mulher que vai gerar a criança. Em alguns casos, ela poderá receber medicamentos hormonais para garantir a receptividade endometrial, um dos parâmetros fundamentais nos tratamentos por FIV para o sucesso da gravidez.

O CFM também determina, de acordo com a idade da mulher, o número máximo de embriões que poderão ser transferidos a cada ciclo do tratamento: até 37 anos entre 1 e 2 embriões, acima dessa idade, até 3 embriões.

Porém, por outro lado, com os embriões congelados, é possível a transferência de um único embrião, evitando, dessa forma, a ocorrência de gestação gemelar, geralmente mais perigosa para mães e fetos.

A opção de doação para o estudo de células tronco em vez do descarte, também está prevista nas regras nacionais.

Qual a importância da doação de embriões?

A doação de embriões tornou-se alternativa ao processo tradicional de adoção. Em alguns países é, inclusive, conhecida como ‘adoção de embrião’. Além da possibilidade de selecioná-los de acordo com as características biológicas do casal, a opção considera, ao mesmo tempo, a conexão que naturalmente se estabelece entre mães e filhos durante a gravidez.

Por isso, com a evolução da FIV, que proporciona, hoje, a solução de diferentes problemas de fertilidade, tem sido a principal escolha quando não há sucesso gestacional com a utilização de óvulos e espermatozoides próprios.

Se a família ou pessoa que recebeu o embrião optar por ter outro filho, não é necessário buscar um novo doador. O mesmo poderá contribuir com quantas gestações forem desejadas, desde que em uma mesma família receptora e no período de armazenamento determinado pelo CFM.

Além disso, o processo de doação não é aleatório. Doadores e receptores deverão assinar um termo de doação e sigilo, da mesma forma que as clínicas de reprodução assistida onde são feitas as doações devem manter, de forma permanente, um registro com dados clínicos de caráter geral, características fenotípicas e uma amostra de material celular dos doadores, de acordo com legislação vigente.

Leia o nosso conteúdo especial sobre o assunto e entenda melhor como funciona a doação de embriões.

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